quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Píramo e Tisbe – o mito que inspirou Shakespeare e Camilo

 «Píramo e Tisbe» é uma história da mitologia romana contada por Ovídio, no séc. I. a.C., nas Metamorfoses, Livro IV. Fala-nos duma história de amor entre dois jovens vizinhos e apaixonados. Pertenciam a famílias ricas e rivais que impediam a todo o custo a aproximação entre os enamorados. Estes dois corações cativos encontraram uma fresta numa parede que separava as suas casas. Por aí foram trocando palavras e silêncios. Tão próximos e ao mesmo tempo tão afastados. Quanto mais as famílias proibiam a sua relação, mais crescia o amor entre ambos.

Decididos a lutar por essa paixão e a enfrentar a prepotência e chantagem das suas famílias, decidiram encontrar-se às escondidas, junto a uma amoreira branca. Tisbe chegou primeiro ao lugar combinado. Entretanto, ao ver uma leoa a beber numa fonte ali próxima, foge e deixa cair o véu que lhe cobria o rosto. A leoa aproxima-se do véu e despedaça-o com os dentes ainda ensanguentados duma presa que devorara momentos antes. Quando Píramo chega ao local, estranha não ver a sua amada e procura-a. Olhando para o chão, vê o seu véu com marcas de sangue e depreende de imediato que fora morta por uma fera, enquanto este não chegara. Fora o seu atraso que a matara! Sentiu uma dor tão forte ao pensar na morte dela que desembainhou a sua espada e perfurou o seu próprio coração. Passado algum tempo, Tisbe, que se escondera nas imediações, aproximou-se da fonte e vê Píramo inerte. Desolada por ver o futuro de ambos esvair-se naquele manto de sangue, pega na mesma espada e trespassa-se também.

Diz-se que o sangue derramado destes dois amantes aos pés da amoreira terá mudado a cor dos seus frutos, dando-lhes a cor vermelha. Há quem diga que algumas se tornaram mesmo negras em homenagem e luto a esta gémea morte.

domingo, 4 de julho de 2021

Caça palavras - Sopa romana

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segunda-feira, 29 de junho de 2020

sábado, 21 de março de 2020

A origem da primavera


Para os romanos, a primavera era o primeiro verão, visto que terminava o período invernio, que dificultava as guerras. De facto, era em março que recomeçavam os combates, depois de tréguas em tempo de frio e chuva. Homenageava-se o deus Marte, inicialmente considerado o deus da vegetação, uma vez que era nesse mês que a vegetação brotava.
Posteriormente, começou a associar-se esse mês ao deus da guerra, porque era nessa altura que as condições climatéricas melhoravam e propiciavam o recomeço das batalhas. Era, aliás, uma forma de se começar o ano, na antiga Roma. Março era o primeiro mês do ano no calendário de Numa Pompílio; vejam-se os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, que eram o 7º, 8º, 9º e 10º mês, respetivamente. Foi Júlio César que acrescentou, em 45 a.C., os restantes meses ao calendário. Inicialmente foram colocados no final com os nomes unodecembris e duodecembris, mas posteriormente colocaram-se para o início do ano com os nomes Januarius e Februarius.
O equinócio [aequa + nox = noite igual (ao dia)] da primavera celebra também o regresso de Prosérpina à terra. Esta tornou-se deusa do submundo depois de ter sido conduzida ao Hades e ter quebrado o jejum do mundo dos mortos, comendo aí uma romã. Apesar da sua mãe Ceres, deusa da agricultura e dos cereais, ter suplicado a sua libertação do mundo inferior, Júpiter conseguiu que Plutão permitisse que Prosérpina passasse metade do ano com a sua mãe; a outra metade teria de ser passada com o seu marido.
O contentamento de Ceres ao rever a sua filha faz com que toda a natureza floresça e se torne fértil. Por sua vez, quando em setembro regressa para junto do seu marido, a tristeza da sua mãe faz esmorecer a natureza. Assim é o ciclo da primavera em oposição ao inverno.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Quem tem boca vaia Roma… (Sim, vaia, do verbo vaiar)


Recusando as insistentes rosas que vendedores estrangeiros me impingem, mantenho-me alinhado para registar o momento. Enquanto aguardo pela minha vez de tirar uma fotografia, lanço um olho ao telemóvel e leio, num jornal online, que Salvini continua a não deixar atracar em Itália o navio Open Arms com emigrantes resgatados no Mediterrâneo.
Demitidas mais duas rosas, avanço na fila enquanto devoro o resto da notícia. Felizmente, Portugal e outros países europeus disponibilizaram-se já a receber aquela gente que se entregou à Fortuna e a Poseidon numa Odisseia muitas vezes fatídica. Só já resta um casal de americanos à minha frente que tenta parar o tempo com uma sequência infindável de fotografias, a partir de todos os ângulos. Afastando da minha mente o culto a Narciso, mergulho de novo o olhar no telemóvel. Constato que o líder da estrema direita ameaça romper coligação com o 5 estrelas por estes defenderem o atracar da embarcação. Entretanto, o casal continua a enquadrar-se em todas as estátuas de Nicola Salvi, de Pietro Bracci e de Giuseppe Pannini. 134 pessoas aguardam dentro do mar por serem salvas e eu tenho à minha volta um mar de gente “matando-se” por uma fotografia que registe o momento em que lançam para trás uma moeda, passando a mão direita sobre o ombro esquerdo como manda a tradição ou a superstição.
A mesma Roma que viu nascer em si o direito romano presente no sistema jurídico de muitos países, a mesma Roma que viu Miguel Ângelo pintar «A criação de Adão» no teto da capela Sistina e esculpir a «Pietà», perdeu agora toda a piedade por seres da mesma criação, que apenas fogem de países onde as bases do direito romano não chegaram. Finalmente atiro ao ar uma moeda que mergulha e enriquece a fonte de Trevi. Olho ainda para trás e prendo nas retinas as estátuas de mármore de Carrara onde se destaca o “Oceano” e a sua carruagem guiada por dois cavalos conduzidos por dois tritões (versão masculina das sereias).
Nos meses de julho e agosto, milhares de turistas percorrem a cidade fundada por Rómulo e Remo, desde a praça de Navona ao Coliseu, desde a fonte de Trevi ao Vaticano; em qualquer esquina há um monumento, uma igreja, uma fonte; todos procuram beber a cultura da cidade que já foi a capital do império. Todos passarão a fazer jus a uma série de ditados aí criados: “Em Roma, sê romano”, levando-nos a consumir que nem um habitante local; “Roma e Pavia não se fizeram num só dia”, mostrando a grandiosidade espacial a conhecer; “ir a Roma e não ver o Papa”, paragem obrigatória para receber a bênção Vrbi et Orbi; “Quem tem boca vai a Roma”, já que esta cidade era o centro do mundo à qual todos os cantos do Império estariam ligados, mas também porque quem consegue perguntar, conseguirá lá chegar facilmente. No entanto, em vez de baixarmos os polegares à maneira dos imperadores romanos e condenarmos aquela gente num digladio marítimo, devemos levantá-los e recordar as glórias e méritos passados da cidade eterna.
Enquanto os dedos indiferentes continuarem virados para o mar, diremos de viva voz “Quem tem boca vaia Roma”, sim, vaia, do verbo vaiar, já que na antiga Roma, quem não estivesse de acordo com questões políticas, nada podia fazer a não ser apupar, isto é, vaiar.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

A CULPA É DA ÉRIS


Costuma dizer-se que «a saúde é um estado transitório que não augura nada de bom». Felizmente, em relação ao amor, não se passa o mesmo, pois há amores eternos, apesar de, muitas vezes, eles serem dificultados pela deusa Éris.
Foi, de facto, essa deusa que, não tendo sido convidada para o casamento dos pais de Aquiles, resolveu comparecer no Olimpo e lançar uma maçã de ouro para o meio de três deusas: Hera, Atena e Afrodite. Esse pomo causou uma grande confusão na morada dos deuses, pois tinha a seguinte inscrição: «Para a mais bela!» As deusas tentaram logo apoderar-se do fruto dourado bem como da distinção indicada. Zeus teve de enviar à terra Hermes, o mensageiro dos deuses, para trazer à sua presença o homem mais belo da terra, Páris, príncipe de Troia, a fim de servir de júri à disputa e ser ele a entregar esse «pomo da discórdia».
Como os deuses da mitologia partilham com os homens não só as suas virtudes, mas também os seus defeitos, qualquer uma das três deusas tentou seduzir Páris, subornando-o: Hera prometeu-lhe o poderio sobre toda a Europa e Ásia; Atena comprometeu-se a torná-lo o homem mais sábio da terra; e Afrodite garantiu-lhe o amor da mulher mais bela da terra.
Não é preciso dizer mais nada, pois já todos sabem que essa mulher era Helena, a rainha de Esparta, cujo rapto provocou a famosa guerra de Troia.
Com a destruição de Troia, através da intervenção de Hera e Atena, que resolveram colocar-se ao lado dos gregos e assim vingarem-se do juízo de Páris, o povo troiano, que conseguiu sobreviver, teve de procurar uma nova terra. Eneias, herói troiano, filho de Anquises e da deusa Afrodite, foi incumbido de fundar uma nova «Ílion» (Troia). Virgílio, na sua epopeia Eneida, conta-nos que essa terra foi o Lácio, na Itália, onde contactaram e se fundiram com os povos latinos. Passadas algumas gerações, Rómulo e Remo, descendentes de Eneias e filhos da Reia Sílvia e do deus Marte, fundaram a cidade de Roma no monte Palatino.
Apesar de Afrodite, a deusa do amor, conhecida como Vénus na mitologia romana, ter provocado tamanhas guerras no mediterrâneo oriental, à mercê de Éris, conseguiu ainda assim pôr o seu filho Eneias e a sua geração a fundar a cidade de Roma (Amor, escrito ao contrário). Se calhar, por isso, aquela cidade é hoje conhecida como a cidade do amor. Apesar das dificuldades, ele consegue aí sobreviver: Amor vincit omnia (O amor vence tudo).