Antes de falar no James Bond, na
Legião Francesa e nos Marines norte-americanos, queria homenagear um professor
de Latim que dizia que, tal como o Amor, Labor omnia vincit [O amor/o
trabalho vence tudo]; de seguida laureava-nos com o lema dos Jogos Olímpicos – Citius,
altius, fortius [mais rápido, mais longe, mais forte] – incentivando-nos a
darmos sempre o melhor de nós próprios à maneira de Ricardo Reis. Costumava ainda
provocar-nos sobre a utilidade dessa língua e concluía que o Latim leva o aluno
a estudar para aprender, em vez de estudar apenas para passar de ano; chamava
ao seu estudo a arte de raciocinar.
O
Latim foi sempre considerado a língua da ciência, como se pode ver, quer pelos
nomes das plantas, quer pelos elementos da tabela periódica, cujas abreviaturas
dele germinaram. No entanto, em qualquer sítio onde mencionemos o Latim,
ouve-se de imediato alguém a referir-se a ele como uma língua morta. De facto, há
muita coisa que já morreu e que continua a ser importante para nós… Aliás, até
há algumas vantagens em estudar uma “língua morta”; ela não evolui, isto é, não
tem (des)acordos ortográficos…
Para
todos os que acreditam que aquela língua morreu, vou referir alguns exemplos em
que aquela língua, eruditamente, “dá vida” a lemas/logótipos de países, estados
e organizações: Estados Unidos da América (EUA) e Sport Lisboa e Benfica (SLB)
– “E pluribus unum” [De muitos, um]; Guarda costeira e Marines
norte-americanos – “Semper paratus” [Sempre pronto] e “Semper fidelis”
[Sempre fiéis], respetivamente; Escócia – “Nemo me impune lacessit”
[Ninguém me fere impunemente]; Canadá – “A mari ad mare” [De mar a mar];
Estado do Rio de Janeiro – “Recte rempublicam gerere” [Gerir a coisa
pública (República) com retidão]; Legião Estrangeira Francesa – “Legio
patria nostra” [A Legião é a nossa pátria]; Justiça portuguesa (sim, também
tem um lema em Latim!) – “Ignorantia iuris neminem excusat” [O
desconhecimento da lei não impede o seu cumprimento]; Força aérea portuguesa –
“Ex mero motu” [Por mérito próprio]; Academia militar portuguesa – “Dulcis
et decorum est pro patria mori” [Doce e honroso é morrer pela pátria];
cidade de Manchester – “Superbia in praelia” [Orgulho no combate];
Brasão da família de James Bond – “Orbis non sufficit” [O mundo não é o
bastante]; Apollo 13 – “Ex Luna, Scientia” [Conhecimento a partir da
Lua].
Como
pudemos ver, a língua de Virgílio e Horácio não está assim tão morta como
dizem. Onde uns leem “O Latim morreu! Não faz falta, por aqui”, outros
compreenderão um pequeno erro de pontuação: “O Latim morreu? Não, faz falta,
por aqui”. De facto, nós exalamo-lo em qualquer parte, às vezes até onde menos
esperamos. Quanto ao seu ensino nas escolas portuguesas, já não sei se a
podemos observar com tanta vitalidade, no entanto, como dizia Cícero, “Non
deterret sapientem mors” [A morte não detém os sábios].
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