quarta-feira, 23 de outubro de 2013

UM DIA SEM LATIM… SÃO FLORES MORT@S NUM JARDIM



Há já muitos anos que conseguimos passar um dia completo sem “tropeçarmos” no Latim, visto que ele morreu e já não é possível estudá-lo nem encontrá-lo no quotidiano.
À noite adormeço e sonho que estou novamente in illo tempore, quando os jardins eram floridos: acordo numa villae, ou num duplex que comprei fora da urbe para descansar no ager publicus. O meu dia começa com um banho relaxante guarnecido de lux, sanex ou nivea; depois da roupa, calço umas sapatilhas ASICS [Anima sana in corpore sanum – Alma sã num corpo são]; é condição sina qua non  tomar um pequeno-almoço frugal acompanhado por lácteos agros; saio de casa e passo num quiosque para comprar a última edição fac-simile [faz semelhante= cópia] da “Mensagem” [Mens agit molem] de Fernando Pessoa; aproveito ainda para tomar um café expresso [espremido]; entretanto chego atrasado ao trabalho e o meu patrão diz-me que tem andado a “gastar o seu Latim” quando me fala da necessidade de pontualidade; almoço no Forum e regresso ao meu posto de trabalho, a Vobis [para vocês]; mesmo ao chegar à porta contribuo para a Caritas [caridade]; na loja ao lado, na Imaginarium, vejo sorrisos de crianças; do outro lado, na Boticário, vejo alguém que pensa que Carpe diem é apenas o nome dum filme ou o nome dum perfume; de regresso a casa passo pelo mecânico para compor o turbo do meu Focus; à noite, depois de jantar, ajudo os meus filhos com trabalhos sobre o mapa mundi e sobre o nosso sistema solar.
Este não teria sido propriamente um dia muito feliz, pois não frequentei nenhum SPA [Sanum per aquam], mas poderia ter sido bastante pior: se tivesse ido responder ao tribunal [Domus Iustitiae], visto que Dura lex, sed lex; se não conseguisse acabar as palavras cruzadas do jornal enquanto estava numa sala de espera, por não saber as abreviaturas dalguns elementos da tabela periódica; se tivesse sido assaltado ou atingido por uma magnum [claro que não falo de gelados]; se ficasse sem saldo no meu telemóvel da Optimus; se o meu esquentador Vulcano resolvesse entrar em erupção…
Não quero ser uma persona non grata nem maçar alguém com o meu modus vivendi. Quero apenas concluir, em jeito de despertar, que terminaria esse dia com a ida para a cama e arriscaria, incautus, um coitus interruptus ou talvez usasse um preventivo durex.

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