terça-feira, 22 de maio de 2012

Fénix


Almeida Garrett negar-se-ia a viajar pela minha terra, se soubesse que por cá já quase não se estuda o Latim. Na verdade, dizia ele, num texto sobre a educação: «O Grego e o Latim são necessários elementos desta educação nobre. […] E uma vocação pública, não pode sem vergonha ignorar as belas-letras e os clássicos.» O mesmo autor acrescenta ainda que «é impossível escrever bem em Português, em Castelhano, em qualquer das línguas do Ocidente da Europa, sem saber Grego, e principalmente Latim, como era impossível aos escritores de Roma fazê-lo bem na sua, sem conhecer a de Atenas.»
Luís de Camões, que ajudou a renascer o espírito dos antigos clássicos, bebendo das «águas do Parnaso» e colocando os deuses romanos a obedecerem à vontade dos lusitanos, evitaria escrever a sua epopeia, porque os filhos de Luso, qualquer dia, nem conhecerão o seu pai e toda a cultura que o envolve.
         O Pe. António Vieira, se adivinhasse o futuro que a língua de Horácio ia ter em Portugal, abandonaria todas as suas referências latinas que abrilhantam a estilística e retórica dos seus sermões e não pregaria aos peixes, mas sim a cães, pois eles, pelo menos, sabem latir…
Fernando Pessoa deixaria outra Mensagem, sem evidências latinas, pois não serão compreendidas por ninguém num futuro próximo. Além disso, o seu heterónimo classicista abandonaria os seus ideais epicuristas e estoicistas para escrever odes infinitas, queixando-se da excessiva tranquilidade e indiferença com que o Latim vai morrendo nas nossas escolas.
É urgente um novo renascimento! Se queremos que a nossa «Última flor do Lácio» não murche e se enfraqueça cada vez mais, devemos alimentar as suas raízes, fazendo renascer das cinzas a cultura e as línguas clássicas, tal como uma Fénix Renascida, ou o Sol que, depois de posto, ressurge para um novo dia.

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