Almeida
Garrett negar-se-ia a viajar pela minha terra, se soubesse que por cá já quase
não se estuda o Latim. Na verdade, dizia ele, num texto sobre a educação: «O
Grego e o Latim são necessários elementos desta educação nobre. […] E uma
vocação pública, não pode sem vergonha ignorar as belas-letras e os clássicos.»
O mesmo autor acrescenta ainda que «é impossível escrever bem em Português,
em Castelhano, em qualquer das línguas do Ocidente da Europa, sem saber Grego,
e principalmente Latim, como era impossível aos escritores de Roma fazê-lo bem
na sua, sem conhecer a de Atenas.»
Luís de Camões, que ajudou a renascer o espírito
dos antigos clássicos, bebendo das «águas do Parnaso» e colocando os
deuses romanos a obedecerem à vontade dos lusitanos, evitaria escrever a
sua epopeia, porque os filhos de Luso, qualquer dia, nem conhecerão o seu pai e
toda a cultura que o envolve.
O Pe. António
Vieira, se adivinhasse o futuro que a língua de Horácio ia ter em Portugal,
abandonaria todas as suas referências latinas que abrilhantam a estilística e
retórica dos seus sermões e não pregaria aos peixes, mas sim a cães, pois eles,
pelo menos, sabem latir…
Fernando Pessoa deixaria outra Mensagem,
sem evidências latinas, pois não serão compreendidas por ninguém num futuro
próximo. Além disso, o seu heterónimo classicista abandonaria os seus ideais
epicuristas e estoicistas para escrever odes infinitas, queixando-se da
excessiva tranquilidade e indiferença com que o Latim vai morrendo nas nossas
escolas.
É urgente um novo renascimento! Se queremos que a
nossa «Última flor do Lácio» não murche e se enfraqueça cada vez mais,
devemos alimentar as suas raízes, fazendo renascer das cinzas a cultura e as
línguas clássicas, tal como uma Fénix Renascida, ou o Sol que, depois de posto,
ressurge para um novo dia.
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