sábado, 22 de maio de 2010

Latim (en)cantado


O Sumo Pontífice visitou recentemente o nosso país e ouvimo-lo orar e cantar em Latim durante as celebrações… Se ele podia ter cantado em Português?... Se calhar até podia, mas não seria a mesma língua divina que enche a igreja de erudição e cultura… Se calhar até podia, mas não usaria a nossa lingua mater… Se calhar até podia, mas não usaria uma língua falada, no nosso território, nos tempos em que se valorizava a língua… Se calhar até podia, mas não usaria uma língua de valores, uma língua de cultura, uma língua das ciências, uma língua das línguas, uma língua eterna…
A palavra «Pontífice» vem do Latim e é formada pelas palavras pontem e facio; à letra significa “fazer a ponte”. Realmente foi o que o Papa veio fazer a Portugal: fazer uma ponte entre Deus e os portugueses… Alguém mais distraído ou agarrado a uma tradução demasiado literal terá pensado que a vinda de Sua Santidade (e não Sua Eminência como o nosso Primeiro Ministro o tratou!), seria motivo para se fazer uma ponte, ou uma tolerância de ponto… Terá sido vantajoso para a nossa economia?... Pelo menos ninguém interpretou a sua vinda com a necessidade de se construir uma terceira travessia sobre o rio Tejo…
Que bom que seria aparecer no governo um pontífice linguístico que fizesse uma ponte entre o estado sincopado, abreviado e deturpado com que se escreve hoje a nossa língua e época áurea em que a nossa língua mãe era estudada por todos… Até quando é que continuaremos a considerar o actual Português a língua de Camões, do Pe. António Vieira, de Eça de Queirós, de Fernando Pessoa, e de muitos outros?... Nos blogs e chats lê-se um Português cuja regra é escrever sem regra… Mas de quem é a culpa? O romeiro de Frei Luís de Sousa diria “De ninguém!”; eu diria que “É de alguém” e acrescentaria que “É minha também!”

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