Dizia uma vez um professor
universitário brasileiro “Deem-me um bom aluno de Latim ou Grego e eu farei
dele um grande matemático.” De facto, estas línguas clássicas são apelidadas de
matemáticas das línguas. Se decompusermos, por exemplo, a palavra Matemática,
verificamos que ela é constituída por μαθ [mat], o tema do verbo μανθάνω, [mantáno] que significa
“aprender” e pela palavra τέχνη [téknê]
que significa “técnica, arte, ciência”, daí ser a matemática a arte de
aprender.
Com efeito, a palavra grega τέχνη está
na origem dos sufixos –tica e –ica de imensas palavras portuguesas,
acrescentando-lhes aquele(s) significado(s). Assim, temos também a música, que é a
arte das Musas (μῦσαι [müssai]); a
política como a arte de conduzir/governar a cidade (πόλις [pólis]); a
didática, a arte de ensinar (διδάσκειν [didáskein]); a física,
a arte da natureza (φὐσις [füssis]) das
coisas; a gramática, a arte das palavras (γράμματα [grámata]); a
fonética, arte dos sons (ϕωναἰ [fônái]); a náutica, a arte dos
marinheiros (ναῦται [náutai]); a
ética, a arte dos costumes/moral (ἔθος [éthos]); a
ginástica, a arte de praticar desporto à maneira dos jogos olímpicos da
antiguidade, literalmente, γυμνός [gümnos], ou seja, nu.
Temos também outros termos helénicos que nos auxiliam na
perceção doutros vocábulos lusos. Com ὑπέρ [hüpér] e ὑπό [hüpó], que significam, “em
cima” e “embaixo”, percebemos mais facilmente quando alguém sofre de
hipertensão ou hipotensão, respetivamente; ou até distinguimos melhor o
hiperónimo do hipónimo. De igual modo,
as palavras ὅλος [hólos], que
significa “inteiro, todo” e μέρος [méros], que significa “parte”
nos ajudam a distinguir um holónimo dum merónimo.
Se soubermos, e. g., que ψευδής [pseudês] quer dizer falso; que ποδός [podós] é pé; que ἄκρος [ácros] é o mais alto, teremos um leque
vocabular mais rico… Compreenderemos melhor o que é um pseudónimo, o que é um
podologista e o que é um acrónimo. Também o advérbio εὐ [eu], que significa “bem” ou “com
bondade”, nos explica a eutanásia (boa morte), a eugenia (boa origem) e o
eufemismo (dizer bem (algo desagradável)) … Ou αἵματος [háimatos] ajuda-nos a compreender as palavras relacionadas
com o sangue: Hemácias, hematologia, hematose, anemia (an+hemia), glicemia (sangue doce), leucemia (sangue branco)… Ou ainda ἄλγος [álgos], significa “dor”
distingue-nos os vários tipos de dor: mialgia (nos músculos); lombalgia (na
zona lombar); quiralgia (nas mãos); ou o analgésico, que tira as dores ou a
nostalgia, que é o regresso à dor…
Ἥπατος [hêpatos] é o fígado e, daí a hepatite, que por sua vez tem também a palavra ἴτις [ítis], que significa “inflamação”; então todos os nossos vocábulos terminados em –ite designam uma inflamação em qualquer parte do nosso corpo: apendicite, laringite, otite, rinite, tendinite, …
Como os gregos
antigos já eram um povo de marinheiros, isto é, ναῦται [nautai], termino com as palavras νῆσος [nêssos] ou νῆσια
[nêssia] que significam “ilha”. Qualquer palavra terminada com alguma delas tem
esse significado associado. Assim, temos o Dodecaneso (arquipélago de 12 ilhas
no mar Egeu); o Peloponeso (ilha de Pélops); a macaronésia (ilhas afortunadas do Atlântico - Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde); temos também a
Indonésia, Polinésia, Micronésia, … Aliás, quando ficamos com “amnésia”, ficamos
como que presos numa ilha da qual não conseguimos sair.
Sem comentários:
Enviar um comentário