Tocado por uma tímida brisa, que me
desperta duma efémera sonolência, abro e fecho repetidamente as pálpebras para
me certificar do local em que me encontro. Ao erguer a vista, o Pártenon
lança-me, ao longe, adrenalina nas veias pela janela do hotel em que me encontro
hospedado, mesmo à frente da praça Sintagma. Os meus olhos saltam pela janela e
perscrutam o parlamento e os seus Evzones «de bela
cintura» que marcham num ritmo hipnótico levantando bem alto as suas pomposas
botas de 3 quilos.
Há
três dias que me encontro em Atenas e já observei a acrópole das mais diversas
perspetivas e distâncias. Da mesma forma que “todos os caminhos vão dar a
Roma”, aqui todos os olhares vão dar à acrópole. Felizmente posso pernoitar no
último piso do hotel; sinto-me quase ao nível daquele templo dedicado à deusa
da sabedoria e mais perto do Olimpo.
Esse templo dedicado a Atena e erigido
durante o século dourado de Péricles tornou-se num dos monumentos mais
conhecidos em toda a humanidade e também o símbolo e a sede da democracia grega. De facto, essa enorme construção física do
século V a.C. transformou-se num grande testemunho e numa grandiosa obra moral
que herdámos dos gregos – a democracia.
Deambulo pelas ruas e observo rostos trabalhadores
insatisfeitos pela supremacia retirada com a recente crise. Observo-lhes a alma
helénica dos tempos homéricos em que venceram Troia. Ultimamente, passados
tantos séculos, é a Troi[k]a e também a Europa sua herdeira, que lhes subtraem
os direitos e os ensinamentos que outorgaram. Reparo ainda nos turistas que
parecem mais entretidos a beber frappês e a adquirir recordações do que a absorver os ensinamentos e a cultura da
Hélade.
Junto à Ágora vejo um rosto coberto que pede esmola no meio de dois andrajosos filhos menores. Parecem-me refugiados; talvez sírios. Os olhares opacos das crianças escondem talvez a morte da figura paterna ou até de algum irmão num naufrágio no Mediterrâneo.
Junto à Ágora vejo um rosto coberto que pede esmola no meio de dois andrajosos filhos menores. Parecem-me refugiados; talvez sírios. Os olhares opacos das crianças escondem talvez a morte da figura paterna ou até de algum irmão num naufrágio no Mediterrâneo.
Felizmente a moral grega continua a dar cartas e recebe estes imigrantes; não os impede de entrar nem os envia para trás, para a morte quase certa donde fugiram. Quando decidiram não fechar as suas fronteiras às vagas de refugiados, mostraram que a sua cultura milenar é a mesma dos pais
da filosofia, da geografia, da história, da matemática, da medicina, da
política, bem como de muitos outros pensadores, artistas e escritores, que
saciaram a sua sede na fonte das águas do Parnaso e na inesgotável alma mater
helena, nossa egrégia avó.
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